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Aves Migratórias do RS

Viagem para o litoral gaúcho em busca do Calidris canutus (por Gilberto Sander Müller)

 

Aproveitando a folga do dia do trabalho, resolvemos dar uma esticada de poucas horas até o litoral gaúcho, para conferir a passagem dos Calidris canutus (maçarico-de-papo-vermelho) rumo ao ártico canadense. Todos os anos, essa espécie nativa do ártico voa de um polo ao outro no continente, fugindo das estações mais frias e em busca do alimento que ainda mantém a decrescente população atual.

Sabemos que a população dessa espécie está em grande declínio, já tendo entrado na lista das ameaçadas, devido à grande devastação de uma espécie de caranguejos-ferradura que vive na costa de Delaware e New Jersey, nos Estados Unidos, e que é fonte de alimento essencial para os maçaricos quando eles chegam esgotados depois da travessia do Atlântico.

Os estudos mostram que a espécie atravessa o Atlântico, saindo principalmente da costa brasileira e com destino final em Nova Jersey e baía de Delaware nos Estados Unidos (e vice-versa), num voo único. Os maçaricos alcançam em voo a velocidade de até 80km/h, fazendo a travessia em aproximadamente cinco dias de voo ininterrupto. Geralmente na primeira quinzena de maio, é realizada a viagem do Brasil para os Estados Unidos, quando as aves, já bem alimentadas na região da Patagônia, iniciam seu retorno, tendo a Lagoa do Peixe em Tavares como ponto principal de parada. Elas estão com uma plumagem muito bonita, chamada plumagem nupcial, com a qual se reproduzem ao chegar em seu território principal,   ao norte do Canadá.

No mês de agosto e setembro, elas, já com os filhotes crescidos, iniciam uma migração de fuga do frio do hemisfério norte, rumando novamente para a Patagônia argentina.

Sabíamos da existência de outros grupos de observadores no nosso litoral, desde a Lagoa do Peixe até a praia de Tramandaí, no litoral norte, buscando entre outras essa espécie na mesma
ocasião.

Saímos de Porto Alegre por volta das 10h da manhã, lembrando que o melhor horário para fotografar e observar aves na linha da praia é no final da tarde, quando o sol está a oeste, permitindo uma boa iluminação dos alvos.

Chegando na praia de Magistério, tentamos alcançar a praia pelo acesso ao sul da vila, mas havia uma boa poça d’água na passagem, de forma que decidimos ir mais adiante, até a praia do Quintão. Lá chegando, aproveitamos para comprar um lanche para o almoço, que faríamos na beira da praia.

Encontramos um acesso perfeito ao sul da praia do Quintão, por onde entramos para a beira da praia. Viajamos alguns quilômetros em direção ao sul, mas a praia estava muito ruim, com
muitas valetas e areia solta, dificultando a passagem. Depois de uma rápida atolada, resolvemos voltar em direção ao norte, cruzando as praias de Quintão e Magistério pela beira-mar.

Nessa região, encontramos vários bandos de maçaricos-de-papo-vermelho, maçarico-branco, trinta-réis de diversas espécies, pernilongo-de-costas-brancas, piru-pirus, gaivotões e algumas batuíras-de-bando.

O nosso objetivo principal era o papo-vermelho e encontramos alguns bandos entre 30 e 50 indivíduos se alimentando na beira-mar, na maré vazante, que é quando aparece mais alimento para as aves na areia.

O tempo estava nublado, quase 100% de cobertura de nuvens, a maré estava baixando, o vento soprava forte do quadrante nordeste, levantando a areia da praia.

Encontramos algumas aves com bandeirolas de origem norte-americana e também da Argentina. Dois indivíduos tiveram a sua ficha cadastral encontrada posteriormente no site
www.bandedbirds.org . É interessante ressaltar que normalmente as bandeirolas não são visíveis a olho nu, sendo que faço registros do bando de forma indiscriminada, e depois, em casa, examino as fotos uma por uma, olhando as patinhas das aves para localizar possíveis anilhamentos. Das aves que identificamos nesta visita, os registros informam que foram anilhadas em 2012 e 2013 em Nova Jersey nos Estados Unidos. Nenhuma delas havia sido registrada no hemisfério sul ainda.

Confirmamos a existência de bandos dessa espécie nas praias mais próximas da capital, que nessa época do ano estão bastante desertas de seres humanos.

Por volta das 15h a cobertura de nuvens ficou mais forte, pressagiando o início da chuva, e resolvemos iniciar o retorno para a capital.

Comprovamos que não há necessidade de viajar até a Lagoa do Peixe, que fica a mais do que o dobro da distância da capital em relação ao Quintão, para observar a espécie alvo.

Nas lavouras de arroz na estrada, encontramos espécies comuns como o vira-bosta, o maguari, o cabeça-seca, garças-brancas-grandes, gavião-caboclo e várias outras.

 

 

 

 

 

 

 

 

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